Para piorar o (quase) diagnóstico da falência múltipla desse corpo chamado
Brasil, no dia 29 de abril de 2015, professores paranaenses foram massacrados
por policiais militares a mando do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). Os
docentes reagiam contra o projeto de lei 252/2015. O texto do PLC autorizava o
governo estadual a mexer no fundo previdenciário dos seus servidores. O resultado:
tiros de bala de borracha, fortes jatos de água e, acima de tudo, MUITA
truculência e violência policial direcionada aos manifestantes.
Por se tratar de um protesto legítimo,
as agressões sofridas pelos educadores paranaenses merecem ainda mais relevo,
já que, maior do que algo físico, trata-se de uma rasura simbólica no tecido
educacional brasileiro. Assim, como
escreveu Clarice Lispector no livro A Hora da Estrela, “Esta história acontece
em estado de emergência e de calamidade pública. ”. Esse acontecimento demarca a
forma sucateada como o sistema de ensino vem sendo administrado pela maioria dos
nossos políticos.
Ressalto que esse texto não existe
fora de uma dimensão ideológica, pois, segundo minha percepção como professor, pesquisador
e ser humano inacabado culturalmente e, por isso, um ser ético que sou, a
principal hipótese que justificaria tais mazelas é o fato dos opressores (políticos/classes
dominantes) não estarem dispostos a emancipar os oprimidos por meio de uma
educação crítica e libertadora, conforme propõe Paulo Freire na obra Pedagogia
da Autonomia Saberes Necessários à Prática Educativa. É por me filiar a um viés
progressista, que não posso enxergar a terrível situação da educação e dos
educadores brasileiros sem propor nenhuma reflexão, por mais “senso comum” que
isso possa parecer.
Atrevo-me
a dizer que minhas considerações são movidas mais pelas perguntas do que pelas
respostas, tal como o depoimento, em um vídeo que circula nas redes sociais, de
uma professora atingida, no rosto, por uma bomba: “Olhe, Beto Richa, eu sou professora há 23 anos! 23 anos! É ISSO O QUE
EU MEREÇO?! Eu mereço uma bomba, uma bomba no rosto?! É isso o que eu mereço
depois de 23 anos! É isso?! É isso?!”. A perplexidade da situação (reitero)
remonta o quadro enfraquecido e fragmentado da nossa educação, fazendo com que a
fala indignada dessa professora se desdobre na boca de muitos que, como ela, indagam:
É ISSO O QUE EU MEREÇO? É ISSO O QUE NÓS MERECEMOS? É DESSE TRATAMENTO
VERGONHOSO QUE A EDUCAÇÃO BRASILEIRA CARECE?
Um comentário:
This is so nice to read. Thanks!
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