sexta-feira, 1 de maio de 2015

Brasil, Pátria Educadora?



Atualmente, no Brasil, vivemos em tempos de barbárie. Densas nuvens reacionárias parecem encobrir boa parte do nosso governo, disseminando ódio, repressão e impedindo a conquista de direitos humanos incompressíveis. Em outras palavras, há o fortalecimento de um conservadorismo seletivo e a reafirmação de um lugar subalterno para os pobres, negros, mulheres, homossexuais, transgêneros, entre outros. Diante de tal situação, podemos observar que, enquanto sociedade, estamos caminhando em passos largos para um grande anacronismo.
Para piorar o (quase) diagnóstico da falência múltipla desse corpo chamado Brasil, no dia 29 de abril de 2015, professores paranaenses foram massacrados por policiais militares a mando do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). Os docentes reagiam contra o projeto de lei 252/2015. O texto do PLC autorizava o governo estadual a mexer no fundo previdenciário dos seus servidores. O resultado: tiros de bala de borracha, fortes jatos de água e, acima de tudo, MUITA truculência e violência policial direcionada aos manifestantes.
            Por se tratar de um protesto legítimo, as agressões sofridas pelos educadores paranaenses merecem ainda mais relevo, já que, maior do que algo físico, trata-se de uma rasura simbólica no tecido educacional brasileiro.  Assim, como escreveu Clarice Lispector no livro A Hora da Estrela, “Esta história acontece em estado de emergência e de calamidade pública. ”. Esse acontecimento demarca a forma sucateada como o sistema de ensino vem sendo administrado pela maioria dos nossos políticos.
            Ressalto que esse texto não existe fora de uma dimensão ideológica, pois, segundo minha percepção como professor, pesquisador e ser humano inacabado culturalmente e, por isso, um ser ético que sou, a principal hipótese que justificaria tais mazelas é o fato dos opressores (políticos/classes dominantes) não estarem dispostos a emancipar os oprimidos por meio de uma educação crítica e libertadora, conforme propõe Paulo Freire na obra Pedagogia da Autonomia Saberes Necessários à Prática Educativa. É por me filiar a um viés progressista, que não posso enxergar a terrível situação da educação e dos educadores brasileiros sem propor nenhuma reflexão, por mais “senso comum” que isso possa parecer.
Atrevo-me a dizer que minhas considerações são movidas mais pelas perguntas do que pelas respostas, tal como o depoimento, em um vídeo que circula nas redes sociais, de uma professora atingida, no rosto, por uma bomba: “Olhe, Beto Richa, eu sou professora há 23 anos! 23 anos! É ISSO O QUE EU MEREÇO?! Eu mereço uma bomba, uma bomba no rosto?! É isso o que eu mereço depois de 23 anos! É isso?! É isso?!”. A perplexidade da situação (reitero) remonta o quadro enfraquecido e fragmentado da nossa educação, fazendo com que a fala indignada dessa professora se desdobre na boca de muitos que, como ela, indagam: É ISSO O QUE EU MEREÇO? É ISSO O QUE NÓS MERECEMOS? É DESSE TRATAMENTO VERGONHOSO QUE A EDUCAÇÃO BRASILEIRA CARECE?

            Dessa forma, não é possível construir uma pátria educadora, quando parece haver um contínuo massacre institucional à educação. Cabe-nos, portanto, como cidadãos, prosseguir sempre a questionar. No entanto, dessa circunstância resta uma assertiva afirmação: vivemos em tempos de barbárie.




Um comentário:

Vietnam Adventure Tour disse...

This is so nice to read. Thanks!