sexta-feira, 25 de julho de 2014

Namólogos e Fluxo de Pensamento

É sete de junho de dois mil e treze e o Brasil Macunaíma está pegando fogo, sei disso porque acompanho os noticiários sensacionalistas pela televisão e a euforia desbaratada dos internautas no Facebook. 
Adoro o gás lacrimogênio e as bombas de efeito moral! Não fosse a minha inércia, de certo, estaria de pé, militando em plena Praça Sete. Não sei se o gigante acordou, o que eu quero é continuar alheio, lendo o meu “Caetés”, ouvindo minha Nara, minha Baby, minha Bethânia, é questão de “Opinião”. Não julgue, já que vislumbro tal relato abrindo caminhos próprios e, consequentemente, arquitetando uma imagem contraditória do sujeito que vos narra.
Nesta manhã, acordei com o braço de Júlio em cima de mim. Não quis mexer um músculo, pois tive medo que o abraço onírico se dissipasse. Foi então que o meu celular despertou, revelando a realidade, quase trivial, de tão conhecida por mim. Encarei que não havia companhia, sequer um bilhete sob o travesseiro. Já inserido no meu cotidiano brutal, tomei um banho, comi meus cinco pães no café da manhã e aceitei o meu espírito calórico e nada animado.
            Costumo dizer que sou quatro vezes marginal, segundo a visão de grande parte da sociedade: ser gay, gordo, pobre e licenciado não é fácil pra ninguém. Não tenho medo de ser panfletário. Para quem consegue conviver com tantas turbulências, reflexões exacerbadas não são páreo para o derrame sanguíneo de minha consciência. Deixa o mundo queimar, lá fora. Tenho muitos problemas não resolvidos e estou sem ânimo para trivialidades coletivas.
            Por estar vivendo um egoísmo nunca antes experimentado, a minha postura pessoal está totalmente introspectiva e megalomaníaca. Cansei de aguardar pela ligação alegada, no dia seguinte. Cansei de viver sob a eterna tensão de agradar com a minha aparência, com o meu discurso, com o meu jeito de ser.
            Quando eu tinha, mais ou menos, quatorze anos e lia escondido as revistas “Capricho” da minha prima mais velha, fabulava amores imaginários, sonhava com o encontro da minha alma gêmea. Nunca a encontrei. Descobri, a partir de uma rejeição aguda, que o meu primeiro amor se preocupava mais com a minha circunferência corporal do que qualquer outro sentimento sincero. Depois disso, as confirmações foram cada vez mais severas, tive vários namólogos, muitas conversas iludidas, no MSN. Só hoje, talvez por já estar muito desiludido, sei que ser gay e gordo, no mesmo combo, é estar morto sem saber.

             É muito difícil ter a alma lírica quando a capa que a recobre não é nada atraente. Estou cansado das minhas mazelas, da nossa política, da nossa hipocrisia, do meu desamor. Tudo me faz concluir que é melhor seguir ouvindo meus discos e escrevendo com a minha letra feia. Algum dia, hei de chorar ao ouvir uma música que me lembre de um amor que eu nunca tive.



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