quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Eu e a Escrita


Tudo começou na alfabetização. Nessa época eu estudava no “Instituto Educacional Crescer”. Livros com historinhas de heróis e princesas eram usados no nosso processo de alfabetização.

Minha família apesar de ser exigente, apóia uns aos outros. Sempre depois da aula, eu ia para a casa de minha avó, pois meus pais trabalhavam e não havia ninguém que pudesse cuidar de mim além dela. Minha avó era o contrário de minha mãe. Era uma pessoa muito leve, muito maleável e eu adorava passar as minhas tardes ao lado dela.

Ela não tinha muito estudo, só se empenhava em ler por causa das leituras religiosas, como a bíblia. Minha avó abraçou a religião com todas as suas forças desde que o meu avô morrera. De segunda a sexta ela ia à igreja orar. Todos os domingos ia ao culto, portanto, sempre lia a bíblia.


Apesar de ler a bíblia constantemente, ela não escrevia no mesmo ritmo de uma leitura. Sempre dizia que não precisava escrever, pois só usava a escrita para assinar os papéis burocráticos da aposentadoria.

Já eu era muito levado quando pequeno e, como se não bastasse, tinha um pouco de dificuldade para aprender a escrever. Vendo isso, minha avó buscava meu primo em alguns dias da semana para que nós estudássemos juntos. Ele tinha aproximadamente minha idade, aliás, era um pouco mais velho e passava pelo mesmo processo que eu.


Lembro com nostalgia daqueles momentos, do cheiro do bolo de cenoura que minha avó fazia enquanto eu e meu primo, encima da mesa da sala, juntávamos as sílabas e formávamos palavras. Depois desses estudos, minha avó, como se estivesse nos presenteando preparava uma mesa para o café, com um bolo de cenoura quentinho e a mesa repleta de guloseimas, o que era um incentivo pra gente.


Com o passar do tempo, já na quarta série do ensino fundamental, em um projeto da Polícia Militar de Minas Gerais chamado, PROERD,  ganhei o prêmio de melhor redação da escola. Redação essa que falava sobre os riscos de se usar drogas e o quanto fora construtivo e importante aquele projeto na vida dos alunos, inclusive na minha.

Quando eu ganhei o prêmio de melhor redação, fiquei muito feliz, lembro-me que eu nem conseguia acreditar. Foi como se alguém me dissesse: “Hei, você tem talento!”.

Antes, a escrita era algo instintivo, o qual eu me debruçava sobre as páginas de meus cadernos para escrever sobre os meus sentimentos secretos. Esses cadernos ficavam guardados e, ainda hoje, permanecem assim, escondidos.





 A escrita me presenteou com momentos maravilhosos, até mesmo, engraçados. Quando eu abria as primeiras pétalas para o amor, para ser exato, meu primeiro relacionamento, eu derramava declarações em cartas apaixonadas, às vezes um pouco exageradas, mas era a forma que eu encontrava para demonstrar todo o meu sentimento pela pessoa.

Hoje, com certeza, usaria formas mais sutis de dizer “Eu te Amo”.

Enquanto eu escrevo esse texto consigo sentir o cheiro do bolo de cenoura de minha avó e a emoção da premiação. Enquanto teço as palavras, teço minha história e projeto o meu futuro, tudo isso posso sentir através do ato de escrever.





(Fotos de Tarick Haziz)

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