Tudo
começou na alfabetização. Nessa época eu estudava no “Instituto Educacional
Crescer”. Livros com historinhas de heróis e princesas eram
usados no nosso processo de alfabetização.
Minha
família apesar de ser exigente, apóia uns aos outros. Sempre depois da aula, eu
ia para a casa de minha avó, pois meus pais trabalhavam e não havia ninguém que
pudesse cuidar de mim além dela. Minha avó era o contrário de minha mãe. Era
uma pessoa muito leve, muito maleável e eu adorava passar as minhas tardes ao
lado dela.
Ela
não tinha muito estudo, só se empenhava em ler por causa das leituras
religiosas, como a bíblia. Minha avó abraçou a religião com todas as suas forças
desde que o meu avô morrera. De segunda a sexta ela ia à igreja orar. Todos os domingos ia ao culto, portanto, sempre lia a bíblia.
Apesar
de ler a bíblia constantemente, ela não escrevia no mesmo ritmo de uma leitura.
Sempre dizia que não precisava escrever, pois só usava a escrita para assinar
os papéis burocráticos da aposentadoria.
Já eu
era muito levado quando pequeno e, como se não bastasse, tinha um pouco de dificuldade para aprender
a escrever. Vendo isso, minha avó buscava meu primo em alguns dias da semana
para que nós estudássemos juntos. Ele tinha aproximadamente minha idade, aliás, era um
pouco mais velho e passava pelo mesmo processo que eu.
Lembro
com nostalgia daqueles momentos, do cheiro do bolo de cenoura que minha avó
fazia enquanto eu e meu primo, encima da mesa da sala, juntávamos as sílabas e
formávamos palavras. Depois desses estudos, minha avó, como se estivesse nos
presenteando preparava uma mesa para o café, com um bolo de cenoura quentinho e
a mesa repleta de guloseimas, o que era um incentivo pra gente.
Com
o passar do tempo, já na quarta série do ensino fundamental, em um projeto da Polícia
Militar de Minas Gerais chamado, PROERD, ganhei o prêmio de melhor redação
da escola. Redação essa que falava sobre os riscos de se usar drogas e o quanto
fora construtivo e importante aquele projeto na vida dos alunos, inclusive na
minha.
Quando
eu ganhei o prêmio de melhor redação, fiquei muito feliz, lembro-me que eu nem
conseguia acreditar. Foi como se alguém me dissesse: “Hei, você tem talento!”.
Antes,
a escrita era algo instintivo, o qual eu me debruçava sobre as páginas de meus
cadernos para escrever sobre os meus sentimentos secretos. Esses cadernos
ficavam guardados e, ainda hoje, permanecem assim, escondidos.
Hoje,
com certeza, usaria formas mais sutis de dizer “Eu te Amo”.
Enquanto
eu escrevo esse texto consigo sentir o cheiro do bolo de cenoura de minha avó e
a emoção da premiação. Enquanto teço as palavras, teço minha história e projeto
o meu futuro, tudo isso posso sentir através do ato de escrever.
(Fotos de Tarick Haziz)
Nenhum comentário:
Postar um comentário