domingo, 30 de dezembro de 2012

Chá com Torradas

            
            No peitoril da sacada, ela acenava para os vizinhos mais velhos que passavam correndo sob o sol da primeira manhã. Como em um ritual, ela comia torradas com mel e tomava chá de maçã. Os mesmos vizinhos podiam observar uma moça ruiva, de cabelos volumosos, pele branca e bochechas rosadas. Ela era bela, doce e peculiar.
            Com uma máquina de escrever e o perfume de uma margarida, ela transcrevia para o papel as estórias que brotavam de sua mente: o seu nome era Emília.
            Porém, nem tudo era perfeito. Ela gostava de um rapaz que, a princípio, não correspondia aos seus sentimentos. Em uma tarde primaveril, lhe escreveu um pequenino poema e, imediatamente, ligou para declamar seus sentimentos por telefone. Ele não querendo ouvir, disse: “Não, Emília, agora não. Me desculpe. Ligue depois e blá, blá, blá!”.
            Emília ficou abaladíssima por meia hora, apenas. No dia seguinte, resolveu esperar pelo pupilo na saída de seu trabalho. Fazia um tempo fresco e caiam algumas pétalas de flores das árvores. A fachada do prédio ficava especialmente bela naquela estação. Contudo, distraída, Emília perdeu seu olhar do foco ao acompanhar os passos lânguidos de uma gatinha cor caramelo. Ao vê-la tão nociva e alheada, o moço fugiu, talvez por medo ou timidez,  não se sabe. A doce Emília ainda esperou mais algum tempo até se convencer que ele já havia ido embora.
            Foi então que ela tomou uma decisão: mandar o poema em uma carta. Já que ele não queria ouvir, pelo menos iria ler. Assim ela fez. Como se fosse segredo, antes de levar a correspondência para central dos correios, ela pingou sobre o envelope lágrimas de seu perfume favorito. Duas gotinhas de Emília para uma imensidão de amor, refletiu.
             Um tempo depois, numa cotidiana manhã, Emília teve a surpresa de receber, em seu pequeno apartamento, uma caixa com belos doces e um bilhete. Era presente do rapaz! Ela não poderia supor que, semanas adiante, ambos estariam sentados embaixo de um sol deliciado, tomando chá, comendo torradas e ouvindo o farfalhar das pitangueiras. No abraço das almas não há fronteiras concretas entre ser uma fada e uma feiticeira!



2 comentários:

A Torre Mágica | Pedro Antônio de Oliveira disse...

Olá, Raphael!

Obrigado pela visita. Fiquei muito feliz por ter gostado do texto. Seus blogs são muito legais também; este principalmente.

Continue escrevendo e cativando seus amigos internautas com belos posts.

Um feliz 2013 com muita saúde e sucesso!

Abraços.

Pedro Antônio

Anônimo disse...

Amigo,

nem preciso ressaltar o quanto adoro o filme, afinal Amélie Je suis. Adorei as suas palavras. Seu blog é uma inspiração.

Abraços.

Dani.