Lembro-me de minha
infância, que fora a fase em que tive meus primeiros contatos com os livros.
O garoto, aquele
garotinho que, eu, hoje, enxergo com certa distância, mas que ao mesmo tempo
está tão perto, que consigo sentir através das lembranças, as mesmas sensações
que me inundava ao mergulhar das histórias. Ele era estudioso, empenhava-se em
ser o melhor da sala. Preocupava-se com as comparações que a mãe sempre fazia
entre ele e seus colegas, de forma que qualquer tentativa de superação passava
despercebida, e todo esforço era praticamente desnecessário, já que ela
insistia em exaltar apenas seus defeitos.
Eu era recluso,
devido às agressões morais de meus colegas de classe que, por querer, a cada
dia de ofensa rasgavam a minha auto-estima. Sádicos? Não sei. Talvez, soldados
do mal disfarçados de crianças. Eles pisavam com seus coturnos hostis em meu
ser. Torturaram minhas forças de forma tão insistente, que sem fôlego para o
sofrimento, preferi me trancar dentro do meu infinito particular.
Doce menino, com
uma sutil inocência no olhar e a fragilidade diante do mundo, queria apenas se
misturar aos colegas, ser mais um aluno comum, de uma turma escolar qualquer.
Biblioteca de
escola pública, que não possuía muita infra-estrutura, e que ocupava um espaço
tão pequeno que era difícil a permanência de mais de 10 pessoas, ao mesmo
tempo, naquele mesmo espaço.
A biblioteca era
um cômodo, sim, um cômodo especial do meu infinito particular. Talvez fosse
como uma sala de estar, onde eu encontrava aconchego e refúgio.
Nela, os livros me
proporcionavam viagens, lindas e magníficas viagens. Mergulhei nos livrinhos
finos da “Coleção Vagalume”, me sentia astuto com Ulisses ao ler “A Odisséia”,
e sentia emoção, com o sofrimento dos personagens do livro “Éramos Seis”.
Há, não posso
retornar ao passado, sem me lembrar do escritor que me introduziu
verdadeiramente a esse mundo. Pedro Bandeira. Imagino que não apenas eu, mas
muitas outras crianças, já se encontraram dentro das obras desse autor. Através
do livro “A marca de uma lágrima”, eu consegui me enxergar por completo, e pela
primeira vez, com algum personagem.
Acho que aquele
momento de sofrimento que eu estava passando me obrigou a construir um
interesse de leitura mais voltado para romances, pois no romance, eu me sentia
reconfortado pela história e abraçado pelo livro. Hoje, vendo como em uma visão
panorâmica, sinto que o abraço físico que faltava, o olhar de atenção e o
amparo, eram substituídos pelos livros.
Cada vez que
reencontro esse garotinho, que sou eu, consigo esclarecer momentos que antes
estavam empoeirados pelo passado das lembranças. Naquela escola, naquela
biblioteca, com minha idade de aproximadamente 10 anos, eu me construí através
do sofrimento e através dos livros.
Com o passar do
tempo, nessa mesma escola, que estudei até a conclusão do ensino fundamental,
mergulhei em outras obras de Pedro. Pedro descrevia com perfeição as situações
e sentimentos que vivia naquela fase de minha vida. A Droga da Obediência,
A Droga do Amor,
Pântano de Sangue, A Droga Americana, entre outros, foram os livros que eu li.
O tempo passou, eu
formei, eu cresci, eu desenvolvi e amadureci. Logicamente, eu li muitas outras
obras de outros autores, tanto brasileiros, quanto estrangeiros. A maioria das
histórias e estórias lidas me ajudou a construir o Raphael de hoje.
Mudei de escola,
de ambiente. Na escola de ensino médio, a biblioteca era mais ampla e a
diversidade de livros era maior, foi nesse período que eu conheci a saga
Crepúsculo da autora Stephenie Meyer. Devorei, senti o gosto, saboreei cada
página. Tive que comprá-los, eu tinha que tê-los. Eu tinha que ter o sentido de
posse, poder ter o objeto de satisfação próximo, igual a um copo de água para
saciar minha sede. Poder me relacionar com um livro sem pressão, sem pressa, a
qualquer hora, e enxergar cada um enfeitando minha prateleira, não tinha nada
que me completasse tanto. Comprei, e depois deles comprei outros.
Com Crepúsculo
descobri em mim o lado de possuir e, mergulhando mais fundo, descobri que meu
lado possessivo coexiste com a minha face egoísta. Não empresto, queria tê-los
exclusivamente para o meu deleite. Seria possível emprestar o namorado pra
alguém? Pois não empresto os meus livros.
Hoje, o Eu atual e
o Eu anterior conversam através da literatura. No livro eu vivo, eu sinto e,
sobretudo, escapo dos meus dramas da vida real. Eu me reconstruo e me resolvo
na literatura.
Leitura é para mim
uma experiência de renovação.
2 comentários:
olá
adorei sei blog
estou visitando e divulgando o
meu que é recente.
siga se gostar...! eu te sigo
http://cliceli.blogspot.com/
Muito bom Rapha... PARABÉNS!
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