quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Livros Lidos em 2015

Olá, leitores (se é que eu ainda tenho algum)!

Já virou tradição, todo ano, eu postar, aqui, as minhas leituras. Antecipadamente, destaco que alguns livros são releituras, e não leituras inéditas.


PEDAGOGIA DA AUTONOMIA
(Paulo Freire)


UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES
(Clarice Lispector)




O OUTRO PÉ DA SEREIA
(Mia Couto)


TODA TERÇA
(Carola Saavedra)





O INVENTÁRIO DAS COISAS AUSENTES
(Carola Saavedra)


SEJAMOS TODOS FEMINISTAS
(Jean Wyllys)


ESSE OFÍCIO DO VERSO
(Borges)



CLARISSA
(Erico Verissimo)



INCIDENTE EM ANTARES
(Erico Verissmo)


TEMPO BOM, TEMPO RUIM
(Jean Wyllys)






sexta-feira, 19 de junho de 2015

Sou um Homem Feminista

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói”
(O Quereres/ Caetano Veloso)



             

Sou gay assumido. Acredito na força simbólica e política da exposição de minha condição. Em um processo de autoconhecimento e de leitura crítica do mundo, transformei a vergonha (dita) em orgulho. E, por pertencer a um grupo minoritário, compadeço-me das lutas de outras minorias. Sob um viés estritamente humanista, reconheço a batalha dos negros, dos pobres, dos transgêneros e das mulheres. Estas, por sua vez, receberão uma atenção especial nesse texto, já que pretendo refletir acerca da batalha pela equidade entre gêneros (feminismo) e, mais do que isso, reivindicar o meu direito de ser um homem feminista.
Reforço que não é fácil ser gay em uma sociedade homofóbica e, por isso, compreendo bem as opressões das quais as mulheres sofrem com o machismo e a misoginia. A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, no livro Sejamos Todos Feministas, declara: “A questão de gênero, como está estabelecida hoje em dia, é uma grande injustiça. Estou com raiva. Devemos ter raiva. Ao longo da história, muitas mudanças positivas só aconteceram por causa da raiva. Além da raiva, também tenho esperança, porque acredito profundamente na capacidade de os seres humanos evoluírem. ”. A partir de tal posicionamento, visto-me com mesma raiva de Chimamanda e sigo os conselhos  de Paulo Freire que, na obra Pedagogia da Autonomia, afirma: “É preciso, porém, que tenhamos na resistência que nos preserva vivos, na compreensão do futuro como problema e na vocação para o ser mais como expressão da natureza humana em processo de estar sendo, fundamentos para a nossa resignação em face das ofensas que nos destroem o ser. Não é na resignação mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmamos.”. Freire,com suas sábias colocações, destaca a importância de se transformar a raiva em poder revolucionário. Em outras palavras: converter um sentimento em uma ação.
Motivado pelos argumentos e pela minha história pessoal, coloco-me em defesa da equidade de gênero, a despeito da pele em que habito. Não sou ingênuo e reconheço que desfruto privilégios por ser homem. Sei que, ao requerer essa legitimação, estou transgredindo relações socialmente construídas e, por conseguinte, aparentando uma significativa contradição. Esclareço, no entanto, que ser um homem feminista não significa roubar o protagonismo das mulheres. É, na verdade, a intenção de apoiá-las em frente às injustiças sociais.
Recentemente, consternei-me com a  fala do técnico da TV a cabo à minha mãe:
_ A senhora, quando ligar pra Sky, não fala com mulher. Mulher tem má vontade de atender e só passa informação errada.
Pautado em sua falsa certeza, o homem associou a ausência de competência ou má vontade (que poderia ser inerente a qualquer pessoa) ao gênero feminino. Como se não bastassem as marcar enunciativas que denotam o preconceito contra a mulher, o texto ideológico do indivíduo foi endossado pela minha mãe, uma vez que ela concordou com ele.

Infelizmente, como nessa situação, podemos perceber casos de mulheres que assimilam o machismo, fraturando e subvertendo a própria natureza do gênero feminino-humano. Em Tempo Bom, Tempo Ruim, Jean Wyllys aponta para a perversidade cultural que perpassa nossa educação: “A cultura e a sociedade não só ‘normalizam’ meninas e meninos, atribuindo papéis de gênero para cada um, mas, sobretudo, lhes ensinam a ‘normalizar’ seus filhos, sobrinhos e alunos, quando os tiverem. Somos condicionados a representar esses papéis, por mais aviltantes que sejam, e a passa-los adiante, perpetuando assim o machismo e todas as suas consequências detestáveis. ”.
Diante de todos os levantamentos, concluo que sou UM FEMINISTA. Tento, diariamente, combater o machismo, a misoginia e qualquer tipo de subjugação às mulheres. Do mesmo modo que algumas delas, ao assimilarem o machismo, retorcem o próprio destino, quero mudar o curso de minha história, enquanto homem. Não sou um opressor, pois sou um apoiador. Sou um agente da transformação.

Sejamos mais humanos e menos categorizadores. Impedir a interpenetração dos homens nas demandas feministas é pôr em jogo as diretrizes da própria ideologia. Encerro minha reflexão com a ratificação de Chimamanda:  “O melhor exemplo de feminista que conheço é o meu irmão Kene, que também é um jovem legal, bonito e muito másculo. A meu ver, feminista é o homem ou a mulher que diz: ‘Sim, existe um problema de gênero ainda hoje e temos que resolvê-lo, temos que melhorar'. Todos nós, mulheres e homens, temos que melhorar. ”.





sexta-feira, 1 de maio de 2015

Brasil, Pátria Educadora?



Atualmente, no Brasil, vivemos em tempos de barbárie. Densas nuvens reacionárias parecem encobrir boa parte do nosso governo, disseminando ódio, repressão e impedindo a conquista de direitos humanos incompressíveis. Em outras palavras, há o fortalecimento de um conservadorismo seletivo e a reafirmação de um lugar subalterno para os pobres, negros, mulheres, homossexuais, transgêneros, entre outros. Diante de tal situação, podemos observar que, enquanto sociedade, estamos caminhando em passos largos para um grande anacronismo.
Para piorar o (quase) diagnóstico da falência múltipla desse corpo chamado Brasil, no dia 29 de abril de 2015, professores paranaenses foram massacrados por policiais militares a mando do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). Os docentes reagiam contra o projeto de lei 252/2015. O texto do PLC autorizava o governo estadual a mexer no fundo previdenciário dos seus servidores. O resultado: tiros de bala de borracha, fortes jatos de água e, acima de tudo, MUITA truculência e violência policial direcionada aos manifestantes.
            Por se tratar de um protesto legítimo, as agressões sofridas pelos educadores paranaenses merecem ainda mais relevo, já que, maior do que algo físico, trata-se de uma rasura simbólica no tecido educacional brasileiro.  Assim, como escreveu Clarice Lispector no livro A Hora da Estrela, “Esta história acontece em estado de emergência e de calamidade pública. ”. Esse acontecimento demarca a forma sucateada como o sistema de ensino vem sendo administrado pela maioria dos nossos políticos.
            Ressalto que esse texto não existe fora de uma dimensão ideológica, pois, segundo minha percepção como professor, pesquisador e ser humano inacabado culturalmente e, por isso, um ser ético que sou, a principal hipótese que justificaria tais mazelas é o fato dos opressores (políticos/classes dominantes) não estarem dispostos a emancipar os oprimidos por meio de uma educação crítica e libertadora, conforme propõe Paulo Freire na obra Pedagogia da Autonomia Saberes Necessários à Prática Educativa. É por me filiar a um viés progressista, que não posso enxergar a terrível situação da educação e dos educadores brasileiros sem propor nenhuma reflexão, por mais “senso comum” que isso possa parecer.
Atrevo-me a dizer que minhas considerações são movidas mais pelas perguntas do que pelas respostas, tal como o depoimento, em um vídeo que circula nas redes sociais, de uma professora atingida, no rosto, por uma bomba: “Olhe, Beto Richa, eu sou professora há 23 anos! 23 anos! É ISSO O QUE EU MEREÇO?! Eu mereço uma bomba, uma bomba no rosto?! É isso o que eu mereço depois de 23 anos! É isso?! É isso?!”. A perplexidade da situação (reitero) remonta o quadro enfraquecido e fragmentado da nossa educação, fazendo com que a fala indignada dessa professora se desdobre na boca de muitos que, como ela, indagam: É ISSO O QUE EU MEREÇO? É ISSO O QUE NÓS MERECEMOS? É DESSE TRATAMENTO VERGONHOSO QUE A EDUCAÇÃO BRASILEIRA CARECE?

            Dessa forma, não é possível construir uma pátria educadora, quando parece haver um contínuo massacre institucional à educação. Cabe-nos, portanto, como cidadãos, prosseguir sempre a questionar. No entanto, dessa circunstância resta uma assertiva afirmação: vivemos em tempos de barbárie.




domingo, 25 de janeiro de 2015

Manhã, Tarde, Noite, Quarto, Sala e Cozinha (devaneios no quarto azul)

Fique claro que isto aí era para impressionar pelo discurso direto, pela forma linguística urdida da trama ou, até mesmo, por um estranhamento,  a fim de lançar luz sobre a metalinguagem tão reverenciada por uma teoria literária qualquer. Contudo, antes de maiores prosseguimentos, confesso minha absoluta ausência de habilidade em aprofundar personagens, recuperar acontecimentos históricos de maneira crível, além das fronteiras de gênero que me tornam um ficcionista sofrível. Ficcionista, palavra que soa pedante, aliás.Guardo, no bolso, poucas certezas. Guardo, no bolso, poucas palavras.
 Uma boca enorme entre vírgulas: uma grande aposto explicativo na cara. Aposto. Mãos conformadas pelas dobras do lençol. Seria eu um autorretrato de Frida Kahlo ou um filme de amor gay com Xavier Dolan? De nada sei completamente.

Tenho vivido tempos difíceis, em narrativas bidimensionais. Há momentos onde a vida fica tão árida, que a diferenciação de complemento nominal e adjunto adnominal, quando ambos são locuções, é fichinha. A ordem de hoje: relacionamento superficial. O mais raso possível, para menor atrito. Mergulhos menos profundos. 






quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Não sejamos Annitas!



Este é mais um texto em primeira pessoa. Ttrata-se de um assunto no qual não possuo nenhum distanciamento, já que sou um indivíduo assumidamente gay que defende a bandeira da igualdade. Problematizarei, aqui, valores machistas e misóginos que vigoram, principalmente entre os homossexuais masculinos, na comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros).
Atualmente, fomentado pelas grandes mídias de informação, o tópico “machismo” tem recebido grande destaque nos debates sociais, tendo em vista acontecimentos como a discussão entre as cantoras Anitta e Pitty, no programa de TV Altas Horas, da Rede Globo. Em uma fala polêmica, Anitta afirmou que a mulher, num paradigma profissional, alcançou os mesmos direitos que os homens e que, atualmente, elas estão exagerando em querer tomar o lugar deles em determinadas situações. Diante de tal fala, Pitty rebateu dizendo que as mulheres não atingiram os mesmos direitos que os homens. Por fim, Anitta refletiu (equivocadamente), segundo as suas observações, que as mulheres não se dão o respeito, em virtude de terem uma abordagem diretiva e sexualmente ativa frente aos homens. Como resposta, Pitty disse que as mulheres não têm que se dar o respeito, mas que os homens devem respeitá-las independentemente de qualquer situação ou atitude.
Ora, são nítidos os problemas no discurso de Anitta. Em primeira instância, podemos identificar a contradição da cantora, pois, se analisássemos isoladamente seu trabalho com a lente machista que vigora em nossa sociedade, concluiríamos que ela também não se dá o respeito. Uma mulher que lança mão de danças sensuais, figurinos ousados e canções que parecem revelar uma (aparente) construção identitária feminina empoderada, emancipada e transgressora, não poderia ter um posicionamento tão conservador e contraditório e sair incólume desse tipo de debate, afinal.
Esse exemplo, no entanto, nos permite deslocar a reflexão acerca do machismo para o universo LGBT, já que, frequentemente, nos deparamos com casos graves de preconceito e segregação dentro de um grupo já marginalizado, como o nosso.
O gays efeminados, as transsexuais, as drag queens, por se apropriarem de signos femininos em sua identidade de gênero ou em sua esfera cultural, são rotulados pejorativamente pela própria comunidade. Assim, são rotineiras as seguintes falas e referências em situações comunicativas cotidianas: “bichinha”, “passiva”, “afeminada”, “trava”, “maricona”, “odeio mulher”, etc.
Podemos inferir, a partir desses casos, um ódio a todo e qualquer índice de feminilidade assimilado por essas pessoas. Quer dizer, em outras palavras, que existe, no âmbito gay, uma forte misoginia e machismo. É relevante destacar, com isso, que os gays (principalmente os masculinos) não estão isentos do machismo corrosivo e nocivo que considera a mulher inferior ao homem, devendo, portanto, elas se subordinarem a eles.
Após essa constatação, não podemos fechar os olhos para tamanho absurdo, pois não deveriam haver hierarquias entre o nosso grupo, considerando que compartilhamos da mesma causa: a luta por direitos civis igualitários em um corpo social héteronormativo e excludente. Com esse tipo de comportamento, além de engrossar a marginalização de conjuntos minoritários, estamos sendo igualmente ignorantes com os nossos companheiros.
Acredito que enquanto não houver essa conscientização e unificação, não seremos uma força capaz de promover mudanças positivas para  nossa comunidade. O gay de voz grossa/ machão/ bombadão não é superior ao gay afeminado e à transsexual. Não sejamos contraditórios, porque, com essa postura, estamos legitimando preconceito e ódio.

Esta é a voz angustiada de um gay que se assusta e não consegue engolir essa realidade. Não dá mais para sermos Anittas.