Quem vê este adulto alto e robusto talvez não consiga assimilar que eu já fui uma pequena criança. Sim, em meados dos anos noventa, matriculado na pré-escola, eu já era uma excêntrica pessoinha. Um pequeno biscoito Mirabel que entrava em quase êxtase ao assistir, diariamente, à programação infantil transmitida pelo Sistema Brasileiro de Televisão, o bom e velho SBT.
Certamente,
aquela foi uma época fértil e pretérita dedicada aos
pequerruchos e, ainda hoje, consigo reviver as boas sensações de tomar Tody e
comer biscoitos com requeijão enquanto assistia “Os Ursinhos Carinhosos”, “A Hora do Recreio”,
“Dênis o Pimentinha”, “O Fantástico Mundo de Bob”, “Bananas
de Pijamas”, “Disney CRUJ”, “Bom Dia e Companhia” e , não
poderia faltar, “CHIQUITITAS”. Alguém ainda se lembra do famoso
refrão: “Mexe, mexe, mexe com as mãos. Mexe, mexe, mexe com os
pés. Mexe, mexe, mexe com a cabeça, dança comigo, remexe bem."?
Chiquititas
foi uma novela argentina, adaptada para o Brasil, que marcou uma
geração de crianças e adolescentes, além de ter sido a
responsável por revelar vários atores, como Débora Falabella, Carla
Dias, Bruno Gagliasso e Fernanda Souza, a intérprete da protagonista “Mili”. Para mim, mais do que uma
obra televisiva, a novela era alvo de todas as minhas inspirações e
aspirações juvenis. Eu sabia cantar, dançar e me emocionava quando
o elenco se apresentava no “Domingo Legal”.
Entretanto,
quero ressaltar apenas um recorte de toda essa história. Vamos ao fato: o meu maior sonho, quando pequeno, era ganhar uma boneca Mili, o que me motivava, portanto, a implorar o presente à minha mãe. Ela, por sua vez, negava minhas investidas como se fosse uma rainha autoritária. Com certeza, embutido em sua burra postura, havia muitos preconceitos e tolas convenções sociais.
Lembro-me, deitado em posição fetal, do 'dia do brinquedo' aonde eu via as minhas felizes amigas com as suas mulherzinhas e eu com o boneco do Batman. Por mais que eu não compreendesse muito bem os meus sentimentos, o descontentamento se revelava em meu rosto bochechudo.
Lembro-me, deitado em posição fetal, do 'dia do brinquedo' aonde eu via as minhas felizes amigas com as suas mulherzinhas e eu com o boneco do Batman. Por mais que eu não compreendesse muito bem os meus sentimentos, o descontentamento se revelava em meu rosto bochechudo.
O tempo
passou e ainda reflito acerca da lacuna deixada pela ausência de uma simples boneca em minha vida. Para alguns essa confissão soará cômica,
talvez de fato ela seja, mas, sinceramente, ainda existe um escopo de melancolia
aprisionado em mim.
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