Sou
clandestina. Acolho-me na sombra do boteco da Mara. Agrado-me do gosto ácido
que escorre pela minha garganta. Excito-me com os espasmos dos corpos de meus
homens. Sou generosa e pratico o bem, como ensinava o saudoso padre Valério de
minha juventude.
A parede que eu vejo está bastante
desgastada e suas peles sobrepostas revelam a maldade do tempo. O teto parece
estar muito longe de onde eu estou. Sinto-me apropriada ao colchão sem lençol
sob o meu corpo. Do lado de fora, presa à porta, uma toalhinha bordada. Do lado
de dentro, uma mulher crua e receptiva.
Recebo
mais um cliente. Será o quinto ou o sexto? Sou arrogante em minha decadência.
As suas mãos grosseiras agridem o meu sexo: unhas sujas de graxa e o suor
ofegante exercem uma violação concedida sobre o meu corpo. “Deite”. “Abra”. “Vai”.
“Vai”. “VAI”... “Ahh”.
Misturo-me
com o ar parado e o cheiro de água sanitária. Deitada, como se estivesse sozinha,
sinto escorrer suor pela fresta. Reflito se é mesmo suor ou o meu gozo egoísta.
Falo
de dentro para dentro e sou puta porque gosto. Chego em casa e beijo o
esposo. Um ato virtuoso e submisso de uma rainha meretriz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário