Estou
em meu quarto, a porta está trancada e a janela cerrada. Todas as possibilidades
de novos ventos estão bloqueadas. Como em uma caixa fechada eu estou. Aqui
dentro não há nada; paira apenas uma relação estranha entre eu e o ambiente. O
tempo, por sua vez, também parece arrastar-se. Lânguido ele segue sem deixar
rastros de suas mudanças.
Com uma das mãos, não totalmente aberta,
eu abano o ar como se quisesse afastar a escuridão da minha face.
Se alguém pudesse me enxergar nesse momento acharia que eu estivesse acenando
para alguém invisível, ou, até mesmo, que fosse uma despedida; a
representação de um adeus.
Não posso dizer se a caixa me possui
ou se ela, na verdade, sou eu. Como se não bastasse o ar denso, o cheiro de
ralo e as baratas que circulam pelas extremidades da parede, o barulho do
relógio, o qual eu só ouço o tiquetaquear, parece ficar mais lento.
A cada momento que passa, o meu corpo
entra em descrédito, enquanto o rastro dos ponteiros torna-se mais silencioso. Dentro
de mim, tenho a convicção que eu não quero e não posso deixar de ouvir aquele
som.
É...
Eu sei que é um calor estranho. Mas porque tanto calor? Olho para o esgoto seco
e minha garganta se esquiva de dor por não mais possuir lubrificação natural. Um rasgar de tecido e eu contorço-me de dor. Não uma dor comum, esta é uma dor
pálida. A mesma cor que me faz ser um sujeito
nesse breu.
Através da janela fechada, penso
enxergar um vulto que possa ser um feixe de luz, entretanto trata-se de pura ilusão.
Como eu poderia crer em tal desatino, onde já se viu luz conseguir atravessar janela suja?
Diante de tanta impossibilidade, vou
perdendo as esperanças, até não mais ouvir o tic-tac do relógio. Então, toda a
sensação de esperança que eu ainda tinha, por mais que secreta dentro do meu
ser, esgota-se.
Na minha garganta seca, extremamente inadequada, não
consigo dizer adeus. Ao sentir o atrito do meu corpo com o frio assoalho, vejo a última esperança partir sem medo deixando-me imóvel e dolorido. O sangue que
escorre do meu nariz umedece os meus lábios rachados. Rochosos. Roxos.
E os meus olho imóveis, assim... Absolutamente mortos.
E os meus olho imóveis, assim... Absolutamente mortos.
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